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O que verdadeiramente te conecta com outras pessoas?

Vim para Barcelona fazer um curso de Liderança Emocional na Universidade de Barcelona, também um curso da língua espanhola.



Logo que cheguei conheci a Amanda, uma chinesa que está compartilhando o apartamento comigo e com o meu marido e estudando na mesma escola de espanhol para estrangeiros.


De cara tentei conversar com ela, mas a comunicação foi bem difícil, ela não falava quase nada de espanhol e poucas palavras em inglês. Pensei comigo: Meu Deus, como serão esses dias por aqui?


Ela andava para o quarto e para cozinha com uma panelinha onde fazia sua comida no quarto e lá mesmo comia sozinha, enquanto eu cozinhava nosso alimento na cozinha e arrumava bonitinha a mesa da sala de jantar para a refeição.


Um dia perguntei se ela queria jantar conosco, ela aceitou sentar-se na mesa e ficar um pouco na nossa companhia, disse em algumas palavras em inglês que depois comeria seus noodles.


Naquele dia me conectei com ela através do seu sorriso, e com sua garra de estar em um país tão diferente do seu para aprender uma nova língua e tentar sua vida por aqui. Descobri sua idade, 30 anos.


Ela seguiu os dias boa parte do tempo em seu quarto, eu a ouvia estudando, repetindo palavras tanto em inglês como em espanhol.


Até que na semana passada começou uma grande manifestação aqui na Catalunya, os jornais e as pessoas de Barcelona falavam muito sobre isso. Começamos a conversar mais, inclusive sobre o tema. Ela estava com medo, disse que em Xangai não existe nada disso.


A convidei mais uma vez para jantar conosco e dessa vez ela aceitou, comemos uma saladinha, arroz e filet de frango. Pude ver a dificuldade dela usando garfo e faca, afinal ela só usa os tais pauzinhos (hashis). Ela disse que adorou o jantar, me pediu para ensinar como eu fiz o filet de frango e que gostaria de cozinhar para nós. Marcamos para o sábado seguinte o jantar chinês.


A semana passou tensa por conta das manifestações e sexta-feira dia 18/10 seria um dia de greve geral; ônibus, metro, aeroportos, tudo iria parar.


Amanda não queria ir para escola por conta disso, conversei com ela e disse que poderia ir comigo e com o Hugo e que nada nos aconteceria.


Saímos os três em direção à escola, muitas das ruas de Barcelona estavam fechadas, havia muitos manifestantes com bandeiras da Catalunya, vindos inclusive de outras cidades. Apesar da multidão nossa ida foi tranquila.


Nossa aula terminou às 16h30 e às 17h30 tínhamos que estar na Universidade de Barcelona para o curso de Liderança Emocional.


Tínhamos que ser rápidos pois o transporte público não estava funcionando e às 17h horas era o horário marcado para a concentração dos manifestantes em uma das praças da cidade.


O Hugo e eu estamos em níveis diferentes no curso de espanhol, assim que sai da sala encontrei com ele e falei para irmos rápido em direção à universidade e ele falou que não podíamos deixar a chinesa na escola.


Saímos em busca da Amanda e logo que encontramos falamos que íamos levá-la até perto de casa, as ruas já estavam tomadas, tinha gente por todos os lados, polícia, manifestantes, imprensa, mas tudo indicava que a manifestação estava pacífica.


Ela estava com medo, dei a mão para ela e mais uma vez falei que nada ia acontecer com ela.


Andamos em meio a multidão por uns 20 minutos, alguns pontos realmente estavam difíceis de passar, era muita gente.


A deixamos bem perto de casa e seguimos para universidade na direção contrária aos manifestantes.


Durante a sexta-feira à tarde e o sábado seguimos fazendo o curso na universidade.


No sábado à noite confirmamos o jantar com ela e fomos juntos ao mercado comprar os alimentos.


Durante a preparação, perguntei se ela queria ajuda e me pediu somente para lavar algumas uvas.


Arrumamos a mesa e aquela panelinha que ia da cozinha para o quarto estava em cima da mesa de jantar com uma água escura fervendo.


A ideia era colocar as verduras, batatas e uma carninha naquela água e deixar ferver por um tempo e depois comer. Ela colocou talheres para nós e eu falei que podíamos comer com os hashis. No entanto o molho da comida era realmente muito apimentado, eu não consegui comer mais do que uma batata.


Começamos a conversar mais e o inglês dela estava bem melhor do que quando chegamos. Parabenizei sua evolução e ela começou a nos contar fatos de sua vida pessoal, suas angústias e do quanto as pessoas trabalham no seu país.


Disse que não quer isso para ela, quer viver aqui na Espanha e ter uma vida diferente. Falou de seus medos e suas dificuldades familiares. Nós simplesmente ouvimos e acolhemos Amanda.


À noite ela queria ir a um bar, pediu para irmos com ela, aceitamos a proposta e seguimos nos aproximando cada vez mais.


Algumas vezes ela fica triste com sua dificuldade com a língua e busco sempre animá-la dizendo que ela pode sim aprender espanhol e que vai aprender.


Vou embora de Barcelona em três dias, levando um pouco da Amanda em mim. Aparentemente não temos nada em comum, nossas origens, nossos gostos musicais, seus costumes, nossa religião, os esportes que gostamos são diferentes, ela ama basquete, anda de skate....


O que me conectou com a Amanda?


Me conectei com a Amanda em seu sorriso, na pureza do seu olhar, na sua capacidade de sonhar, na sua garra de viver esse sonho e continuar lutando perante as dificuldades, no respeito as nossas diferenças, na entrega e no serviço.


Obrigada Amanda por me ensinar tanto sobre conexão.


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